segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Ortigão pelas praias

O Verão de 2022 findou (no hemisfério Norte) há quase um mês e a época balnear já terminou, oficialmente, há pouco mais de duas semanas mas qualquer estação do ano e qualquer data no calandário são adequadas para se recordar, referir, um livro que ocupa um lugar algo especial na bibliografia do seu ilustre autor, e, por «arrastamento», da bibliografia da geração literária a que pertenceu. Trata-se de «As Praias de Portugal – Guia do Banhista e do Viajante», de José Duarte Ramalho Ortigão...
... Que Pedro Correia escolheu como um de «dez livros para comprar na Feira» (do Livro de Lisboa de 2022), e disso deu conta no blog Delito de Opinião. «“As Praias de Portugal”, de regresso às livrarias após prolongada ausência, é um bom exemplo do seu talento. Faz-nos recuar cerca de 150 anos, visitando pontos da nossa costa como se os víssemos agora. Mérito do grande prosador que Ramalho (1839-1915) foi. (...) Quando turista ainda se escrevia à francesa (touriste), o autor deste “guia do banhista e do viajante” percorreu muitas praias do país, confessando preferências. Portuense de berço, assume especial fascínio pelo mar nortenho. Algumas das raras notas confessionais surgem-lhe a propósito da Foz. E suscita sorrisos ao apresentar a Granja, “uma praia de algibeira”. Mas duas das melhores crónicas deste roteiro balnear situam-se mais a sul. Uma em torno da Ericeira, que Ramalho enaltece como “a terra mais asseada de Portugal” – exceptuando Olhão, aliás só aflorada para tal efeito nesta digressão entre Âncora, no Alto Minho, e a península de Tróia. Alentejo e Algarve estão ausentes da obra, datada de 1876. (...) O cronista amável também se revela neste livrinho, hoje com interesse não apenas literário mas sobretudo etnográfico. Numa época em que a praia se frequentava mais pelas suas propriedades terapêuticas do que como cenário de lazer. (...) Sobressai a visão minuciosa do repórter que no Cais do Sodré embarca “no vapor” e vai mirando as praias do Tejo e as seguintes, já no mar. “Entramos na baía de Cascais, 27 quilómetros de Lisboa percorridos em cinco quartos de hora.” Sem poupar elogios à vila, que “possui uma praça em que se acha o tribunal e a casa da Câmara, um passeio público, três hotéis, um teatro e uma praça de touros”. Ecos de um tempo remoto, eram ainda S. Martinho do Porto, Costa Nova e S. Pedro de Moel “praias obscuras”.» 
É de salientar, e de lamentar, que a edição que serve de «mote» ao texto de Pedro Correia, e cuja imagem de capa ilustra aquele, seja a da Quetzal de 2022, que foi impressa em sujeição ao aberrante «acordo ortográfico de 1990». Tal é, pois, de evitar; em alternativa existem outras, anteriores, edições, como por exemplo uma da Quetzal de 2014, cuja imagem de capa se reproduz acima, e que o próprio PC já havia destacado naquele ano.

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