O Verão de 2022 findou (no hemisfério Norte) há
quase um mês e a época balnear já terminou, oficialmente, há pouco mais de duas
semanas mas qualquer estação do ano e qualquer data no calandário são adequadas
para se recordar, referir, um livro que ocupa um lugar algo especial na
bibliografia do seu ilustre autor, e, por «arrastamento», da bibliografia da
geração literária a que pertenceu. Trata-se de «As Praias de Portugal – Guia do
Banhista e do Viajante», de José Duarte Ramalho Ortigão...
... Que Pedro Correia escolheu como um de «dez livros para comprar na Feira» (do Livro de Lisboa de 2022), e disso deu conta
no blog Delito de Opinião. «“As Praias de Portugal”, de regresso às livrarias
após prolongada ausência, é um bom exemplo do seu talento. Faz-nos recuar cerca
de 150 anos, visitando pontos da nossa costa como se os víssemos agora. Mérito
do grande prosador que Ramalho (1839-1915) foi. (...) Quando turista ainda se
escrevia à francesa (touriste), o autor deste “guia do banhista e do
viajante” percorreu muitas praias do país, confessando preferências. Portuense
de berço, assume especial fascínio pelo mar nortenho. Algumas das raras notas
confessionais surgem-lhe a propósito da Foz. E suscita sorrisos ao apresentar a
Granja, “uma praia de algibeira”. Mas duas das melhores crónicas deste roteiro
balnear situam-se mais a sul. Uma em torno da Ericeira, que Ramalho enaltece
como “a terra mais asseada de Portugal” – exceptuando Olhão, aliás só aflorada
para tal efeito nesta digressão entre Âncora, no Alto Minho, e a península de
Tróia. Alentejo e Algarve estão ausentes da obra, datada de 1876. (...) O
cronista amável também se revela neste livrinho, hoje com interesse não apenas
literário mas sobretudo etnográfico. Numa época em que a praia se frequentava
mais pelas suas propriedades terapêuticas do que como cenário de lazer. (...) Sobressai
a visão minuciosa do repórter que no Cais do Sodré embarca “no vapor” e vai
mirando as praias do Tejo e as seguintes, já no mar. “Entramos na baía de
Cascais, 27 quilómetros de Lisboa percorridos em cinco quartos de hora.” Sem
poupar elogios à vila, que “possui uma praça em que se acha o tribunal e a casa
da Câmara, um passeio público, três hotéis, um teatro e uma praça de touros”. Ecos
de um tempo remoto, eram ainda S. Martinho do Porto, Costa Nova e S. Pedro de
Moel “praias obscuras”.»
É de salientar, e de
lamentar, que a edição que serve de «mote» ao texto de Pedro Correia, e cuja imagem
de capa ilustra aquele, seja a da Quetzal de 2022, que foi impressa em sujeição
ao aberrante «acordo ortográfico de 1990». Tal é, pois, de evitar; em
alternativa existem outras, anteriores, edições, como por exemplo uma da
Quetzal de 2014, cuja imagem de capa se reproduz acima, e que o próprio PC já havia destacado naquele ano.
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