Há quase 150 anos que a comparação entre Camilo
Castelo Branco e José Maria Eça de Queiroz constitui um tema recorrente na história
da literatura portuguesa. A ligação entre os dois grandes escritores não se restringiu apenas à construída nas páginas manuscritas e impressas mas estendeu-se também ao
plano pessoal, pois o pai do autor de «Os Maias» foi o juíz – generoso – no primeiro
julgamento (pelo relacionamento com Ana Plácido) do autor de «Amor de
Perdição». Aliás, é de destacar o livro de A. Campos Matos «A Guerrilha Literária», precisamente sobre este tema.
Outra análise das diferenças
camilianas-queirosianas, quiçá inesperada, deveras desconhecida para muitos,
foi revelada recentemente por Pedro Correia no blog Delito de Opinião. O seu
autor é, foi, Franco Nogueira, que antes de se tornar famoso (e famigerado?) enquanto
Ministro dos Negócios Estrangeiros de António de Oliveira Salazar utilizava preferencialmente o seu
talento não na diplomacia mas sim em outra actividade. Eis um excerto do seu
livro «Jornal de Crítica Literária», publicado em 1954: «(...) Em Eça de Queiroz, o acto criador é
essencialmente expressão formal; em Camilo esse acto é acima de tudo expressão
de sentimentos; e assim, enquanto o primeiro deforma pela sátira, o segundo
deforma pelo drama. (...) Significa isto que o romance de Eça vive sobretudo
das suas linhas formais exteriores: técnica, estilo, atracção do assunto,
sátira, crítica mordaz. Ao contrário, a novela de Camilo existe principalmente
pelo seu conteúdo: intensidade emotiva, luta de sentimentos, drama psicológico,
construção e desenho das figuras humanas. (...)»
Justificar-se-á
talvez recordar ainda Manoel de Oliveira, que realizou filmes com base em obras
dos dois escritores.
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