Numa iniciativa sobre José Maria Eça de
Queiroz é inevitável e até desejável lembrar, citar, (re)avaliar e (re)valorizar
os seus contemporâneos, conhecidos, colegas, amigos, vários dos quais obtiveram
notoriedade e influência cultural e/ou política perene por mérito próprio. Um
desses amigos e contemporâneos – e que, aliás, nasceu no mesmo ano do autor de
«A Relíquia», ou seja, 1845 – foi Joaquim Pedro Oliveira Martins.
A editora Bookbuilders reeditou em 2018 aquela
que é provavelmente a obra mais famosa e importante daquele, «Portugal Contemporâneo». E, em texto publicado no blog Delito de Opinião no passado dia 15 de Maio, Pedro Correia apontou os motivos dessa fama e dessa importância: «É
um monumento, equivalente naquilo que hoje se convencionou chamar escrita de
“não-ficção” a esse ponto cimeiro do romance intitulado “Os Maias”. (…)
Com edição original de 1881, em dois volumes, estende-se da morte de D. João
VI, em 1826, à “Revolta da Janeirinha”, que pôs fim ao período da Regeneração,
em 1868. O balanço do Portugal oitocentista, na óptica do autor, não podia ser
mais negativo: o país vivera sob sucessivas ocupações estrangeiras, com duas
décadas de soberania militar e política inglesa na sequência das invasões
francesas, e atravessou quase todo o século sob o espectro da bancarrota.
Situação muito agravada pela traumática independência do Brasil, em 1822, só
reconhecida três anos depois por Lisboa, e pela dilacerante guerra dinástica
que se estendeu de 1828 a 1834, fracturando o reino entre absolutistas e
liberais. A obra destila pessimismo. Sobre um tempo em que, segundo OIiveira
Martins, o “antigo comunismo monástico”, varrido com a deposição e o banimento
perpétuo de D. Miguel, dera lugar ao “comunismo burocrático” das décadas
liberais. Nesta sucessão de episódios trágicos ou burlescos, com uma peculiar
liberdade de interpretação dos factos e um extraordinário poder descritivo,
perpassa uma galeria de personagens sujeitas aos cáusticos parágrafos do
narrador.»
Impõe-se porém fazer a correcção de um erro
neste texto: Antero de Quental não integrou o grupo denominado «Vencidos da
Vida», ao contrário de Eça de Queiroz e de Oliveira Martins.
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