… Em quantidade (número de páginas) e em
qualidade. E tem um final maravilhoso e inesquecível. Trata-se de «Os Maias»,
consensualmente apontado como a obra-prima de José Maria Eça de Queiroz. É um
dos dois «monumentos» da literatura portuguesa oitocentista – o outro é «Portugal Contemporâneo», de Joaquim Pedro Oliveira Martins – para Pedro Correia, que, no blog Delito de Opinião, a ele fez uma análise abrangente:
«Muito mais do que um romance,
este vasto fresco sobre as classes dominantes no Portugal do
rotativismo monárquico, caricaturadas pela pena de alguém que bem as conhecia,
é um monumento. Uma obra ímpar na literatura portuguesa e um dos grandes
títulos da literatura mundial, com admiradores da envergadura de um Jorge Luis
Borges. Misto de ficção, de reportagem detalhada da Lisboa oitocentista e de
ensaio sobre a perpétua crise de identidade das elites portuguesas, “Os
Maias” contém uma inesquecível galeria de personagens, situações e frases
que rapidamente se incorporaram no imaginário português, fundindo-se com a
realidade. (…) Desmesurado em vários sentidos, este romance publicado em 1888
funciona ainda hoje como a mais impiedosa, sarcástica e demolidora autópsia das
classes dirigentes nacionais. Estas, mesmo quando não gostaram de se descobrir
no retrato, aproveitaram a imparável vaga de popularidade da obra para se
impregnarem do seu espírito e da sua letra, rosnando imprecações contra o País,
amaldiçoando o seu passado e predizendo horrores sobre o seu futuro. Quantas
vezes, ao longo de anos, não temos lido e escutado Egas de pacotilha berrando
aos quatro ventos enormidades contra o famigerado destino português. (…) (Eça
de Queiroz) concebeu durante anos uma obra que funcionasse como um implacável e
lúcido retrato da realidade portuguesa através da exibição dos seus mais
destacados representantes – na banca, na finança, na política, nas letras e no
jornalismo. Seria, de algum modo, a obra de um estrangeirado – alguém
capaz de mirar sem réstia de compaixão o chão que o gerou. Mas com um
sentimento misto de nojo e nostalgia. (…)»
É de recordar que «Os Maias» foi o pretexto para uma exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, por ocasião dos 130 anos da sua
primeira edição.
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